Entretanto, saiu da
cerca do palácio um grupo de pessoas com uma noiva montada a cavalo.
Vinham em direcção ao
lugar onde nós estávamos: à frente caminhava um casal, cuja mulher era Dona Albertina e o homem era Dom Baldo. Este
perguntou-me, em tom cortês, o que estava ali a fazer. Respondi-lhe que estava
ver o belo palácio - ou castelo - de Sua Senhoria. Ficou muito contente e agradeceu com bons
modos. Depois de pensar um pouco esclareceu que ele era Dom Baldo ou Fidalgo e que
Sua Senhoria era só a sua mulher, de acordo com as regras da nobreza. Creio que as
regras da nobreza ensinam que os fidalgos se podem tratar também por Senhoria e suas
mulheres por donas.
Em particular
perguntei-lhe sobre as características dos salteadores que o tinham ferido e roubado, para procurá-los e levá-los à Justiça.
Respondeu-me que naquele momento não tinha tempo para isso e que esperássemos pelo
seu regresso do casamento, convidando-nos a participar na boda. Chamou pela
Josefa, sua governanta, a quem disse para nos mostrar o palácio e a torre logo que
terminasse o trabalho que terminasse o trabalho que estava a fazer.
Terminada esta
conversa alguém da comitiva perguntou-lhe se não queria usar a sua espada na cerimónia do casamento. No momento não tinha a
certeza se ficava bem fazê-lo. Pediu que fossem buscar a espada e o livro de cerimónias
dos Fidalgos. Abriu-o no capítulo terceiro e no seu artigo quinto estava escrito que
a deviam usar nas cerimónias de casamento dos filhos ou das filhas. Pôs a espada à cinta
do seu lado esquerdo, tal como ensinava o livro, e a comitiva seguiu sem mais
incidentes.
O fidalgo Baldo era
um homem alto e magro, com olhos cor de açafrão, com uma barba comprida como se fosse oriental. Levava uma camisa
branca, laço, colete, casaco azul, calças brancas, polainas pretas de cano alto, um
chapéu de aba larga e uma capa de cerimónias.
A sua mulher também
era alta e magra com rosto de características lusitanas. Levava uma saia comprida de cor bege com barra azul larga
com flores de amendoeira bordadas à mão, um lenço azul na cabeça e uma sombrinha,
tudo de acordo com a condição de mulher de fidalgo.
Dom Baldo segurava a
rédea do cavalo. Uma colcha de seda feita em Freixo de Espada à Cinta cobria a sela do cavalo. Na colcha estavam
bordados bichos-da-seda, uma amoreira cujas folhas lhes serviam de alimento e um
freixo com uma espada à cinta, símbolo daquele povo.
A noiva que ia a
cavalo era a sua filha mais velha, de nome Maria. Mostrava a sua alegria no rosto redondo e claro. Levava um vestido branco,
o qual lhe chegava aos pés, uma sombrinha, um ramo de rosas brancas do seu jardim,
argolas grandes e um colar, tudo em ouro amarelo. Ia casar-se com um rapaz da Quinta da
Estrada, que se chamava Gordete. Um pouco mais atrás vinham os irmãos da noiva, duas
raparigas chamadas Clementina e Alcina e um rapaz chamado António.
Enquanto esperávamos
falámos com algumas pessoas que por ali passavam, sobre a presença ou não dos salteadores naquela zona. Entre elas
um peleiro, conhecido por Judeu de Lagoaça, disse-nos que durante a última noite desconhecidos
assaltaram a igreja daquela povoação e a residência do padre, donde
roubaram ouro e prata. Constava que se tinham refugiado nas grutas da serra do Palão.
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