Dom Baldo de Martim Tirado e o seu palácio de uma torre - Capítulo XII

Em dia de tanto calor despertou-nos a atenção o murmúrio da água de uma fonte. Não a víamos, talvez devido a umas árvores que se encontravam à nossa frente ou a algum penedo. No cruzamento os nossos animais, por sua iniciativa, viraram na sua direcção. Era a fonte dos Couços, famosa pela pureza e frescura da sua água, tal como a da Fonte da Saúde.

Nisto ouviu-se uma pessoa a cantar. O canto era alegre e suave. Surpreendeu-nos não podermos saber donde vinha a voz, talvez devido ao eco repetido que fazia no vale. Enquanto falávamos no assunto, vimos que uns ramos de uma figueira se mexiam, sem que houvesse vento ou que se visse qualquer pessoa que os fizesse mexer. A situação era estranha. Por precaução empunhámos as nossas armas. O Botelho gritou: apresente-se o cantor ou o fantasma. Então saiu de trás de um muro um rapaz conhecido do Botelho que andava ali com um cesto a colher figos e uvas. Nesse momento deixou de se ouvir cantar e os ramos da figueira já não mexiam. Seria ele quem anteriormente cantava e mexia nos ramos da figueira.

Entretanto chegaram várias pessoas à fonte, para dar de beber aos animais e transportar água. No dorso dos animais traziam uns cestos de vime com cântaros de barro. As mulheres usavam lenços na cabeça, as mais novas de cores variadas e as mais velhas de cor preta, segundo a tradição.

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